quarta-feira, 14 de abril de 2010

Corinna Libertada

lagoCorinna, triste e em profunda depressão, sentou-se a beira do lago que ficava do lado de sua casa, ela não queria estar com ninguém a não ser sua própria angústia de ter tido uma existência nula. Casou-se aos 13 anos, praticamente vendida pelo seu pai a um comerciante da cidade grande, viu sua juventude se esvair na forma de sucessivas gravidezes e de cuidar de um homem já idoso, que a tratava como se fosse uma criada qualquer.



Nasceram 5 filhos, sendo que 2 deles, prematuros, morreram no parto. Sobraram Joanne, James e John. Seu marido não chegou a ver o primeiro aniversário do caçula James, um infarto fulminante acabou com ele. Ainda bem que ele tinha algumas posses, o que contribuiu para que Corinna não fosse jogada na rua da amargura. Com três crianças para criar, ela comeu o pão que o diabo amassou, mas mesmo assim, ela agradecia aos céus por conseguir vencer a tudo e a todos. Mesmo com todos os infortúnios, Corinna era uma pessoa muito religiosa e jurou em vida não pertencer a nenhum outro homem. Ela criou dentro de si uma parede. Para ela Deus a estava provando...

Sua filha Joanne, quando tinha 16 anos, foi violentada e espancada por um grupo de desocupados e com o passar do tempo foi se tornando cada vez mais paranóica e acabou se suicidando, cortando os pulsos.
John, o filho mais velho foi assassinado quando estava no meio de um tiroteio na praça central da cidade. Dizia-se que ele fazia parte da quadrilha que assaltava o comercio local, mas nada tinha sido realmente provado. Dizia-se também que sua irmã tinha sido violentada como parte de uma vingança de uma quadrilha rival.
Mas Corinne sempre agradecia a Deus. Eram provações que ela tinha que passar...

John, o caçula, tocava o comercio deixado por seu pai, e cuidava de sua mãe. Casou-se com uma linda garota da região, Dianne, mas não deu sorte. Ela começou a trair John com um amor de sua infância. Não tardou muito e o pobre rapaz descobriu tudo. Num acesso de fúria assassinou a esposa e seu amante, e no fim, deu um tiro em sua própria cabeça. Para Corinne, Deus continuava com suas provações...

Hoje Corinna está com 48 anos e cansada de viver. Cansou-se das provações... Na beira do lago ela pensa em como as coisas poderiam ter sido diferentes. Poderia ter fugido de casa, assim não ter aceitado um casamento imposto. Quem sabe poderia ter tido outro homem, alguém que ela realmente amasse. Mas ela hoje está sozinha e sem ninguém. Financeiramente, ela vivia de uma pensão e de alguns aluguéis deixados por seu falecido marido... mas por dentro, ela estava aos pedaços.

Sentada a beira do lago e encostada numa árvore, ela via o seu olhar se tornar turvo, a paisagem se tornar embaçada, suas pernas e braços não mais responderem aos seus impulsos... Ela estava se despedindo do mundo. Para que viver? Deus ferrou-a a vida inteira, e agora era ela que estava no comando. Apenas alguns comprimidos e ela agora determina seu próprio destino. Estava livre para alçar novos vôos. Não era mais seu pai, seu marido, seus filhos, Deus, igreja, sociedade... Agora é apenas ela e ninguém mais.
(by A. J. Rosário - 16/01/2006)
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.
Crônica publicada no CrazySeawolf's Blog

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