sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Temporalidades traiçoeiras

Quando aceitei este emprego, disseram-me que eu deveria ter a responsabilidade que eu nunca tive em toda a minha vida. Este emprego seria uma como uma compensação por tudo que tinha acontecido comigo no decorrer de todos os anos. Eles tinham reconhecido o erro cometido e tentaram recompensar...



Meu parceiro Greg, sempre do meu lado, mostrando ser leal e confidente, mas na verdade, eu sabia que ele tinha sido designado para me vigiar. Bem, eu nunca tinha sido confiável em toda a minha vida, será que eles pensavam que eu poderia ser diferente agora? Claro que não. E a função do Greg era exatamente essa, me manter nos eixos e reportar qualquer deslize meu aos seus superiores. 
Desde que aceitei esse emprego, eu tinha algo na mente. Algo que era proibido. As coisas não podiam ser mudadas. O que aconteceu, aconteceu e tínhamos que manter as coisas do jeito que estavam... Mas havia algo que eu queria mudar...

O ano era 1980, e eu estava na vigília de um cara, um tanto quanto perturbado, mas que estava destinado a fazer algo que iria aterrorizar o mundo. E eu precisava realmente saber o motivo daquilo. Naquele dia eu o havia observado andando para lá e para cá, parecia atormentado por alguma coisa. Num dado momento, ele estava próximo de uma pessoa, junto ‘a multidão Percebi o êxtase em seus olhos, ele estava do lado de uma das maiores influências do século 20 e naquele dia, um dia especial, pois todos estavam felizes em ver que ele tinha voltado de um auto-exílio, cinco anos precisamente dito. Ele voltaria a influenciar o mundo como sempre fez.
Na noite daquele dia, o cara que eu estava vigiando, estava em um bar, sozinho, tomando um café, e mesmo sendo proibido, eu me sentei ao lado dele...

- Você não parece legal, cara. – disse eu.
- Qu-quem é você? – perguntou ele assustado.
- Apenas um amigo. O seu dia hoje pareceu agitado... - É que eu terei que fazer algo. É contra a minha vontade, mas terei que fazê-lo.
 - Mas se é contra a sua vontade, porque vai fazer? O que te motiva a isso? - Eles me mandaram fazer, entende? Todas as noites eles falam comigo, mesmo dormindo. Eles falam que ele traiu a todos nós, que ele é uma mentira...
- Mas, eles quem?
- Eles são reais, nem você e ninguém me entendem...
- Não, quem não entende é você. Você é um cara inteligente e sabe o que é certo e errado. Você não precisa fazer algo porque te mandaram fazer. Você não pode permitir que outros te digam o que fazer. - Mas ele traiu a todos nós, mesmo não querendo, eu tenho que fazer...
- Quem foi que te deu autoridade de cometer um assassinato? E além do mais, se for matar alguém por causa de uma suposta traição, então toda a raça humana deveria ser exterminada. Todos traem, de uma forma ou de outra. Eu já traí alguém, vai me matar por isso? Até mesmo você, parece que traições da sua parte, são constantes, quem sabe você mesmo deveria morrer? Quem sabe eu não te mate agora ou mesmo você cometa um suicídio? Pense nisso. A raça humana é nojenta, mesquinha não confiável, e você faz parte dela. Depois de falar isso, saí do bar e deixei o cara lá sozinho, perdido em seus pensamentos...
E na esquina do bar, lá estava Greg, reprovando a minha atitude.

- Você nunca deveria ter feito isso, vai contra todas as regras, eu terei que te reportar. Você pode ter causado um dano imenso e isso terá que ser consertado.
- Sim, talvez eu possa ter causado esse dano, mas fiz com consciência. Sempre imaginei um momento como esse. Quem sabe o que poderia ter acontecido se naquela fatídica noite ele não tivesse sido assassinado? Hoje eu tenho a chance de reverter isso, e ninguém e nem mesmo você vai me impedir.
- Eu não sabia o quanto você era perturbado... E depois, qual será o próximo? Hitler, Osama...?
- Eu não sou idiota, Greg. Alterar um evento grandioso pode causar umas perturbação temporal de extrema amplitude e até mesmo destruir toda a realidade. Eu já fiz os cálculos, entre 10% e 15% de danos. A realidade se ajustará. É um preço pequeno a ser pago...
- Sinto muito, vou ter que... Não o deixei acabar a frase. Um golpe rápido, suficiente para que ele perdesse os sentidos. Ele não iria me impedir...

No dia seguinte, exatamente às 8 da noite, ele e a esposa estavam vindos do estúdio de gravação, o cara iria chegar perto, pedir um autógrafo e em seguida, iria desferir vários tiros, assassinando a figura mais relevante do século. Mas eu estava lá para impedir isso...
Mas nem precisei. O cara não apareceu, e nada aconteceu naquela esquina de New York.

Ao voltar à base, Greg estava livre, com um ar e superioridade e falou:
- Você conseguiu, John não foi assassinado. Mark David foi encontrado morto em seu apartamento. Parece que ele se suicidou ou foi levado a isso. Imagino quem teria sido o responsável...
- Eu fiz o que deveria ter sido feito. Não induzi ninguém a se matar. Não tenho culpa se o cara era perturbado. Apenas tentei fazê-lo voltar à razão. - Sim, ao mostrar a ele que todos os seres humanos não prestam, ele tirou a própria vida, pois não poderia conviver com isso durante o resta da sua vida. Você foi esperto. E agora, está feliz?
- Sim, mas algo está estranho. Eu ainda me lembro da morte de John.
- Tenho a impressão de que o tempo não se realinhou...
- Tem alguma coisa errada. Veja! John seguiu a sua carreira e até voltou a tocar com os outros Beatles. Eles foram até três vezes ao Brasil. Mesmo após a morte de Harrison, eles continuaram como um trio, sempre com um guitarrista convidado. PORQUE EU NÃO ME LEMBRO DISTO?
- Parece que o feitiço...
- Cale a boca! Já sei o que deve ter acontecido. Eu criei uma nova linha temporal. A minha linha ainda existe e eu pertenço a ela. O meu outro eu da nova linha é que vivenciou essas outras experiências...
- E agora? Duas linhas temporais. É para isso que nós existimos. Para impedir criações de novas linhas temporais, sabia disso?
 - Podemos consertar. É só criar um evento que possa unir as duas linhas em uma só. Assim as memórias do outro eu iriam se incorporar às minhas.
 - Você pretende criar um curto circuito temporal. Você é louco.
 - Não, não sou. Uma das maneiras de fazer isso é causar uma tremenda explosão de energia que possa forçar a união das linhas temporais e um evento capaz de fazer isso é a queda de um meteoro simultaneamente nas duas Terras. As ondas vibracionais do choque entrarão em ressonância com as ondas temporais causando a quebra da barreira dimensional forçando o tempo a seguir numa única linha. Só temos que minimizar as perdas, fazendo com que o meteoro caia numa área desabitada. Os desastres naturais que venham a ocorrer poderão ser contidos com o campo nulificador.
- Não, você deve ser impedido. Ainda não te denunciei pela amizade que temos...
- Amizade? Que porra é essa de amizade? Eu sei muito bem qual a sua função. Nunca fomos amigos, no máximo colegas de trabalho. - Eu sabia que nunca poderia confiar em você. Você é uma desgraça, uma anomalia que deve ser...

E de novo não deixei que Greg terminasse a frase, só que desta vez eu o enviei para uma outra dimensão. Depois eu o traria de volta e arcaria com as conseqüências de meus atos. Agora era eu sozinho com o plano maluco. Tinha que dar certo... Ou não. Os cálculos não eram animadores, cerca de 40% de tudo dar errado...

Tudo aconteceu do jeito que tinha que acontecer. A queda do meteoro gerou uma tremenda explosão cujas energias romperam as barreiras do espaço-tempo e das dimensões. As duas linhas temporais se tornaram uma só. Os danos ambientais foram mínimos. Minhas ações me levaram a uma prisão eterna...

Hoje me encontro aprisionado num lugar que parece o nada sem fim. Estou flutuando no vazio de um espaço sem sequer me lembrar do por que. E parece haver um vazio enorme em minha mente.
 Parece que algo foi tirado de mim ou que nunca existiu...
(by A. J. Rosário - 09/12/2011)
Plágio é crime e está previsto no artigo 184 do Código Penal.

Fonte da imagem: Inovação Tecnológica Follow my blog with Bloglovin

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