quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Uma volta ao passado

E de repente, salto da cama naquela ansiedade porque estava atrasado para o trabalho. Não tinha ouvido o despertador nem o toque do celular. Mas ao levantar percebi algo estranho. Não era o meu quarto, nem a minha cama e eu parecia menor do que tudo...

Por incrível que pareça, lá estava eu com de volta com os meus 13 anos e na casa por onde vivi boa parte da minha infância e adolescência. E lá estava a minha mãe fazendo o café para o meu padrasto que estava se aprontando para ir trabalhar. Eu tinha voltado no tempo, pelo menos a minha consciência. Um menino com a mente de um adulto cinquentão.

Levou um tempo para clarear as idéias e perceber que tudo aquilo era real. A tarde iria para a escola e eu reveria os amigos que há muito não mantinha contato, além dos professores que me marcaram nessa época.

Ao passar uma semana, percebi que não tinha volta. A volta no tempo parecia ser irreversível. Eu tinha recebido uma segunda chance. Não cometer os mesmos erros de outrora e viver do jeito que eu tinha imaginado, sem o medo que permeou em toda a minha vida. Não fazer coisas dos quais eu me arrependia. Seguir a carreira que só fui perceber que era a tal depois de velho, e passar longe de tudo que eu tinha feito na vida, mas principalmente uma coisa eu coloquei em primeiro lugar... Impedir o assassinato de John Lennon!

via Dorgas on Fire!
Mas como fazer isso? Como entrar contato numa época sem computadores, smartphones e as redes sociais? Só me restavam as boas e velhas cartas. Da minha vida prévia, eu sabia qual seria o endereço que Lennon iria morar com a Yoko em Nova Iorque. Então eu deveria esperar o momento certo para começar a me corresponder.

Mas será que Lennon iria me levar a sério? Eu não poderia entrar em contato e dizer que eu era do futuro e que tinha voltado ao passado, então apelei para aquilo que mais odeio na humanidade, como eu sabia o que iria ocorrer nos próximos 50 anos, eu me travesti de um sensitivo ou espírita. Um moleque que podia ter premonições.

E mandei a primeira carta em 78, mas sem mencionar previsão nenhuma. Apenas uma carta de um fã, para um ídolo que vinha marcando a minha vida desde que comecei a gostar de rock. Quando eu tinha uns 8 anos, eu fui presenteado com um compacto simples dos Beatles com a músicas “Let it Be/You know my name” e desde então vinha comprando (isto é, meus pais compravam) vinis dos Beatles e de John Lennon na carreira solo. Para quem não sabe, em 1975, John Lennon gravou seu último trabalho fazendo cover de músicas antigas que o inspiraram em sua carreia musical, e se retirou do cenário para viver com a família, e especialmente com o seu segundo filho, acompanhar o seu crescimento, coisa que não tinha tinha feito com o primeiro lá nos anos 60, com a sua primeira esposa.

Bem, para a minha surpresa, Lennon respondeu a minha primeira carta, ficando impressionado com o meu inglês. Eu não esperava que logo na primeira ele fosse atencioso comigo e assim, o relacionamento foi sendo construído até que eu comecei a alertá-lo para tomar cuidado com os fãs. Isso foi no final de 1979, quando ele já tinha me confidenciado que iria voltar a ativa, e me prometeu que eu receberia o novo álbum “Double Fantasy” assinado por ele em primeira mão.
Mencionei a ele o nome de Mark Chapman, que nas minhas supostas visões era um ser totalmente desequilibrado e que planejava fazer algo terrível, e pedi para que ele tomasse cuidado ao voltar para seu apartamento e desconfiasse de qualquer pessoa que o tivesse seguindo. Como a gente tinha construído um relacionamento de confiança, John acreditou em mim e entrou em contato com o departamento de policia da cidade, para averiguar a pessoa em questão.

Algum tempo depois, John escreveu dizendo que realmente existia essa pessoa e que ela planejava assassinar várias outras celebridades, inclusive ele que estava no topo da lista. Chapman disse aos policiais que ouvia vozes dizendo que Lennon era um traidor pois blasfemava contra Deus dizendo-se maior que Jesus Cristo (Isso aconteceu na época dos Beatles). Em outras vezes, Chapman dizia que se matasse uma celebridade, ele iria ganhar notoriedade e ficar famoso.

Mais tarde, Chapman foi encontrado morto. Ele tinha se enforcado em sua casa, pois não lhe restava mais nada para viver. Eu havia salvado a vida do meu ídolo!

Em 1982, ele veio ao Brasil e fez muita questão em me conhecer e fui de graça ao show no Ibirapuera. Fiquei no camarim e recebi dele de presente a sua guitarra, entre outras coisas. A imprensa na época não sabia o porquê da atenção do cantor para um reles brasileiro, pois há tempos tinha pedido para John não mencionar para ninguém essa minha “premonição”, pois não queria ser visto como um santo ou coisa pior. Mesmo assim, eu meio que virei celebridade também.

Fiz minha carreira na área da informática e fiz parte de toda a revolução tecnológica dos anos 80 e 90. E sempre que ia para os EUA, a trabalho ou lazer, John fazia questão de que me hospedasse na casa dele, Yoko me adorava e tornei-me um grande amigo de seu filho Sean. Em 1996, toquei guitarra em duas músicas e na segunda passagem no Brasil, por volta de 2000, acompanhei a tour de Lennon e sua banda nos cinco shows. Foi maravilhoso estar ao lado do meu ídolo máximo, e por dentro, satisfeito por ter feito a coisa certa.

Nessa segunda chance que recebi na vida, vivi satisfatoriamente, cometi erros e acertos, mas foi a vida que eu sempre quis.

Estou me aproximando da idade em que deixei de viver na outra linha de tempo. Só espero que não haja outro reboot! Cansa ter que fazer tudo de novo!!! Mas se for para salvar a vida de John Lennon, farei quantas vezes forem possíveis!
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